Betty Joseph

A inglesa Betty Joseph, analista didata da Sociedade Britânica de Psicanálise, formou-se inicialmente em Serviço Social e trabalhava como assistente social psiquiátrica durante e depois da Segunda Guerra Mundial. À época estava em análise com Michael Balint na cidade de Manchester, Inglaterra, e não pensava em fazer a formação psicanalítica. Foi então que seu analista resolveu mudar-se para Londres, para estar mais próximo dos colegas da Sociedade Britânica de Psicanálise, e convenceu-a de ir também. Joseph iniciou então sua formação psicanalítica em Londres em 1949.

Mais tarde, já iniciada a formação em Londres, passou a se analisar com Paula Heimann e encontrou em Hannah Segal uma interlocutora com quem discutir seus casos clínicos. A dupla permanece em sintonia até os dias de hoje.

Joseph, junto com Bion, Segal e Rosenfeld, deu continuidade ao trabalho de Melanie Klein, utilizando seus conceitos na abordagem clínica e pesquisando o uso da projeção e da identificação projetiva em seus estudos. Ela se interessa especialmente por pacientes considerados difíceis e resistentes. Publicou vários trabalhos a respeito de pacientes que procuram a análise com a vontade consciente de mudar suas vidas, mas que parecem incapazes de realizar mudanças.

Ela não se detém às comunicações verbais do paciente e explora o conceito de contratransferência, levando sempre em conta o estado mental do analista durante as sessões. Acredita que as interpretações possíveis de provocar mudanças psíquicas são aquelas baseadas na transferência e na contratransferência. Em outras palavras, explora a relação analista-paciente e o modo pela qual é vivenciada por cada uma das partes.

Em 1975 publicou O paciente de difícil acesso, um trabalho de grande importância no desenvolvimento da visão de Joseph e uma referência para vários analistas até hoje. Nesse trabalho, descreve casos que aparentemente vão bem, há uma atitude de cooperação do paciente e o analista se vê em uma situação confortável. Para a autora, é justamente nesse momento que o analista deve se perguntar se está havendo mudanças, pois talvez não haja transformações no caso. Sua teoria é de que a parte invejosa da personalidade de alguns pacientes ataca sua parte mais saudável e capaz de entendimentos e mudanças. Segundo Joseph, este splitting pode ser percebido na transferência e na comunicação não verbal.

Joseph relata as dificuldades de se trabalhar nesses casos, uma vez que o paciente procura meios inconscientes de afetar e pressionar o analista, comprometendo sua capacidade de pensar e atuar como psicanalista e não promovendo mudanças no precário equilíbrio mental estabelecido pelo paciente.

Em 1981 escreveu O vício pela quase morte, em que fala sobre uma das manifestações do instinto de morte. Joseph propõe uma força poderosa de autodestruição que leva o paciente a se ver como alguém que não pode ser ajudado. A autora descreve como o pensamento de certos pacientes pode ser dominado por fantasias sadomasoquistas. Com isso, o paciente pode usar seu sofrimento para triunfar sobre aspectos mais saudáveis de sua personalidade. Há um ataque sádico a tudo que seja mais constritivo, tanto no próprio paciente, quanto no analista.

Dentre suas contribuições mais recentes, está Transferência: a situação total, de 1985. Nesta obra, Joseph desenvolve a noção de Klein de que a transferência inclui uma situação total transferida do passado para o presente, assim como emoções, defesas e relações objetais.

Resenha elaborada por Gabriela Pszczol, membro do Instituto de Ensino e Formação Psicanalítica da Sociedade Brasileira de Psicanálise do Rio de Janeiro.

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