Terroristas: quem são eles?

Observatório Psicanalítico 32/2017

Ensaios sobre acontecimentos sociais, culturais e políticos do Brasil e do mundo 

 

Terroristas: quem são eles?

Luciano Lírio (SPBsb)

 

Toda notícia de ato terrorista desperta em nós um imediato sentimento de repúdio. Isto é compreensível: as vítimas são pessoas inocentes que nada têm a ver com a política, e os bens materiais destruídos eram úteis à população. Repudiamos uma ação destrutiva. Mas fica a pergunta: por que tantas pessoas, em diferentes lugares do mundo, fazem isso? Uma resposta simples é que são loucos ou são do mal. Outro dia foi na Somália. Mais de trezentos mortos e quatrocentos feridos. Pessoas miseráveis matando miseráveis. O Ocidente acompanhou os acontecimentos à distância. São negros e pobres. Sem valor econômico. Já os atentados de Boston, de Paris e Londres deixaram o mundo aterrorizado e durante muito tempo não se falou de outra coisa. 

 

Lá pelos anos 60 a forma mais comum de terrorismo era o sequestro de aviões, que, em grande parte, terminava sem mortes. Um certo presidente americano, já não me lembro o nome, declarou “guerra ao terrorismo”. Desde então, o terrorismo se alastrou e se diversificou. Os que detêm o poder e a força não dialogam e dificilmente cedem em alguma coisa. Algo semelhante ocorre nas cidades brasileiras. Os problemas sociais são tratados como caso de polícia e a violência só aumenta.

 

A psicanálise sempre soube que aquilo que não encontra espaço no simbólico é foracluído e inevitavelmente retorna da realidade externa como perseguição. Os excluídos estão nos campos de refugiados, na periferia das cidades e são desrespeitados nos seus direitos mais básicos. A imensa e crescente população carcerária no Brasil demonstra o quanto o nosso país está doente. Os conflitos armados em várias partes do mundo também demonstram que o nosso mundo está bem doente. O que vemos é que muitos vivem mal para que poucos tenham o máximo.

 

Fico pensando nos homens, mulheres e crianças-bomba. Algo aconteceu que o desejo de viver lhes foi tirado. Recorro a Bion para tentar entender o que se passa, quando ele fala do “Terror sem Nome”; “quando a ausência de um seio continente não só não impede o temor de morrer, mas retira o desejo de viver”. (Dicionário de la obra de W.R. Bion pagina 348 Rafael E L Corvo). A ausência do seio poderia ser pensada como a realidade social precária e hostil, que precocemente impõe ao sujeito uma quase total impossibilidade de sonhar e desejar. A vida se restringe à busca de prazer imediato sem passado e sem futuro, sem jamais se conseguir um estado de satisfação e repouso íntimo que alimente a construção da subjetividade. Tanto faz morrer hoje ou amanhã. A morte psíquica é a realidade. 

 

Quem são os loucos: aqueles que criam um mundo assim ou suas vítimas?

 

(Os textos publicados são de responsabilidade de seus autores).

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